segunda-feira, 24 de março de 2014

Louvor ou pedido cantado?


Há algum tempo os tradicionais hinos, presentes nos hinários de muitas igrejas, foram substituídos, parcial ou totalmente, por cânticos contemporâneos, mais conhecidos como louvores gospel, durante os cultos dominicais. Pouco importa se a letra está alinhada com a ortodoxia. O que realmente importa para as novas gerações é que a melodia compassada e em geral lenta dos hinos não é atrativa como as dos novos cânticos, por vezes recheados de efeitos sonoros e entremeados com solos de guitarra e ministrações. A crítica feita aos atuais louvores deve afastar, contudo, o mero saudosismo pelos cânticos do passado, bem como evitar que se incorra no erro de sacralizar determinados estilos ou ritmos musicais. 

Primeiro, a preferência por um ou outro ritmo é questão de gosto, coisa que não se discute. Segundo, não há ritmo sacro ou profano. O que determina a sacralidade de algo é a destinação que se dá (1Co 10:31). O grande motivo desta crítica aos novos louvores está para além de uma mera preferência pelo antigo, e menos ainda deve-se a qualquer resistência à mudança, ao menos de minha parte.

O cerne da questão é, de fato, teológico, e, ainda mais, diz respeito à prática cristã num momento que por essência deve ser inteiramente dedicado a Deus: o culto. Por culto todos nós concordamos, creio, tratar-se de um momento em que cada um dos eventos, atos e intenções deve ser voltado àquele que é alvo da adoração. Se esse entendimento é o correto, como espero, podemos então derivar esse mesmo princípio para os cânticos de adoração a Deus, e verificar se estes realmente cumprem os objetivos a que se propõe. Uma análise superficial mostrará que as letras de muitos louvores cantados nos cultos estão longe de atingir seu objetivo, desviando o foco, que é Deus, para o homem.

Não que estes louvores glorifiquem ao homem. Mas se não chegam a tanto, acabam por voltar-se a nós, servos, e não ao Senhor, no sentido de que tornam as necessidades humanas proeminentes em relação à adoração a Deus. Por vezes, o desvio é sutil, imperceptível aos leigos, e receio que somente uns sete mil crentes chatos espalhados por aí consigam perceber o que muitos chamariam de pura implicância. Mas deixarei aqui algumas dicas, para reflexão, àqueles que ainda cantam qualquer música para Deus durante os cultos de sua igreja simplesmente porque a melodia é bonita ou a letra motivacional.

Fique atento às músicas que contém pedidos bem pessoais, em geral do tipo: lava-me, enche-me, purifica-me, renova-me, usa-me, entre outros. O momento de culto não é para se pedir, mas para se agradecer pelos tantos pedidos já atendidos. Nesse mesmo sentido, tenha cuidado com cânticos que tragam clamores pela coletividade, tais como “faz chover” e “derrama”, pois não fogem a regra do humanismo. São só algumas horas agradecendo, e você terá o restante do tempo para voltar a pedir que Deus faça chover bênçãos. Alguns outros cânticos convocam a marchar, guerrear, pisar na cabeça do inimigo, pular para os lados ou dar brados de vitória, sendo este último um dos temas mais recorrentes em canções gospel.

Não fogem à regra dos cânticos que possuem expressões como as mencionadas acima. Tudo isso, devo lhe dizer, está enquadrado no mesmo problema. São cânticos inapropriados para o momento de culto. Mas isso não quer dizer que sejam pecaminosos, ou inferiores a outros louvores que se concentram em enaltecer a Deus, embora alguns aos quais fiz clara referência sejam realmente inconcebíveis teologicamente. O fato é que muitas canções são inadequadas para o culto solene, assim como são as minissaias.

Se, porventura, persiste ainda alguma aparência de preciosismo ou mesmo preconceito de minha parte, resumirei tudo que tentei dizer até aqui de maneira bastante objetiva: as músicas de louvor a Deus cantadas no momento do culto devem ter somente a Deus como tema, deixando de lado quaisquer necessidades humanas. Em outras palavras, o louvor deve servir para, como já diz o próprio nome, louvar, exaltar, adorar, bendizer, engrandecer e glorificar a Deus, e isso deve estar bastante claro nas palavras utilizadas na letra da canção. Finalmente, devo esclarecer que há muitos hinos que não atingem esse objetivo, bem como há muitos cânticos do movimento gospel que podem e devem ser usados no momento de culto.

Mas este alerta serve também para nos fazer lembrar de que há muitos hinos e até mesmo canções antigas, ricas em adoração a Deus, completamente esquecidas em detrimento de louvores que somente são tocados nos cultos por estarem fazendo sucesso entre os crentes. 

Fonte: Renato César, via Bereianos

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